sábado, 17 de dezembro de 2016

Capítulo Um – Carregando...
4 de Abril de 2005
Era mais um dia simples em João Pessoa e todos estavam se
arrumando para um show que acontecerá no centro, mas havia algo de
diferente com Danilo, ele estava muito nervoso, o que era uma coisa
atípica, pois ele quase nunca fica nervoso com algo. Ele olha o relógio
quase de instante em instante para ter certeza que está tudo dentro do
planejado, mas seu nervosismo estava bastante grande, começando a
cismar que havia algo de errado, mas tudo estava perfeitamente normal.
Danilo perfuma-se, penteia o cabelo, checa várias vezes o espelho apenas
para ver se está bonito, o que ele leva mais tempo do que para se vestir.
Então Danilo foi, sem fazer nenhuma cerimônia a mais, ou alguma outra
objeção sobre o seu penteado, ou o modo como deveriam estar as mangas
da camisa. Estava decidido que deveria chamar a garota do caixa de um
mercadinho perto da sua casa para ir no festival. Danilo cultivava uma
certa paixão por esta garota desde o dia em que ela começou a trabalhar
lá. Havia dias em que mesmo que não houvesse necessidade de comprar
alguma coisa, ele arrumava dinheiro com sua mãe, nem que fosse apenas
para comprar besteiras, mas ele queria de toda forma estar lá vendo
aquela garota. O plano era simples, ele iria comprar algo, e quando
chegasse no caixa,a chamaria para sair e ela iria aceitar. Chegando lá,
notou que o mercadinho estava cheio de pessoas, mas não era muito de se
admirar, aquele lugar estava sempre cheio naquele horário, e sempre
havia longas filas cheias de mães comprando leite para os bebês, ou então
senhores de idade que como Danilo, apenas iriam comprar alguma
besteira. Enquanto ficava na fila, era possível reparar nas pessoas que ali
estavam, expressões diferentes em todos os rostos, e o que mais se
destacava para Danilo era a da garota que estava no caixa, a qual ele
estava decidido em chamar para sair. O nome dela era Gabriela, tinha
cabelos curtos e loiros que batiam no ombro, não era muito alta, nem
tinha um grande corpo, mas o rosto dela compensava todo o resto. Há
muito tempo, Danilo anda observando tudo que a garota faz, sem sequer
ter conversado com ela, e sempre que algum amigo lhe perguntava sobre
este assunto, ele esquivava-se com desculpas de amor á primeira vista.
Mas não era só a garota que chamava a atenção dele naquele local, as
prateleiras que estavam sempre bem organizadas, era algo que lhe
interessava muito, ou o atendimento de todos os funcionários que
pareciam estar sempre ali perto caso você tivesse alguma dúvida, o que se
justificava pelo fato de que Danilo tinha o sonho de ter sua própria
empresa algum dia, e jurava para si mesmo que seria uma grande
empresa, começando com uma boa organização. Era uma multidão de
gente, mas algo que intrigava era que quase todos estavam atentos a
pequena televisão que se encontrava perto do balcão onde as pessoas
passavam as compras. Estava passando um jornal local, nada de muito
interessante à primeira vista, era apenas pessoas normais que estavam ali
trabalhando, passando as informações colhidas durante o dia. Danilo não
se importava muito com jornais ou coisas do tipo, ele fazia mais o tipo do
cara que não se importa com as coisas que acontecem ao seu redor, como
a morte de algum adolescente por causa de drogas. Aproximava-se a vez
de Danilo, a cada segundo que passava, ele ia ficando impaciente,
inquieto, suas mãos estavam agitadas, afinal era o primeiro show que ele
iria assistir, e sequer pagaria, levando em conta que era um evento
público. Era um festival de música que acontecia anualmente na cidade,
todos se reuniam no centro da cidade para festejar a noite inteira, uma
confraternização em que as pessoas podiam relaxar e esquecer um pouco
do stress que carregavam nas costas, ouvindo uma música boa. Logo que
chegou no balcão para pagar as besteiras, ele sentiu o nervosismo tomar
conta inteiramente dele, como se lhe faltasse palavras para se dirigir a ela,
como se depois de tantos anos falando ele tivesse esquecido a própria
língua. Mas ele respirou fundo e procurou ficar o mais relaxado possível,
afinal não queria ter que esperar até outro evento acontecer para tentar
novamente. Tomou coragem, parecia que sua voz estava falha, sentia
medo, por algum motivo aquilo era um grande passo, ele no fundo sabia
que tinha colocado uma barreira grande demais nesta garota, mas deveria
atravessá-la, de qualquer forma.
-Olá, eu acho que você já deve me conhecer, sou o Danilo, venho neste
mercadinho há um bom tempo, mas nunca parei para trocar uma palavra
com você.
Após ter falado, Danilo notou que a garota o olhava de uma forma
estranha, era como se estivesse transmitindo um mal sentimento apenas
com os olhos, mesmo assim ele não desistiu, já estava ali, não podia mais
voltar atrás. Decidido, tomou coragem e falou novamente:
-Ouvi dizer que vai ter algumas bandas legais no festival, ele já começou
há um tempo, mas quero ver apenas a última apresentação que será da
banda Gradiente, é minha favorita, mas enfim, você vai ao festival? ,
podemos ir juntos se quiser!.
= Olha, saia logo daqui, não vê que está parando a fila? – Disse Gabriela,
aparentando estar irritada – Se eu quisesse ir a este festival, eu realmente
iria, mas nunca seria com você. Eu nem te conheço, tudo bem que você é
um cliente antigo do mercado, mas isto não quer dizer nada.
= Porque você está sendo rude? – Perguntou Danilo, espantado com a
reação da menina – eu apenas fiz um convite, não precisa me tratar desta
forma.
= Anda logo menino! – Gritou uma senhora que estava quase no final da
fila.
Danilo então pagou e retirou-se do mercadinho. Estava péssimo, de
todas as vezes que ele chegou a pensar em como seria a conversa com
Gabriela, ele nunca tinha imaginado isto, era constrangedor, ainda mais
pela grande quantidade de pessoas que presenciaram aquele fato, e que
com toda a certeza iriam espalhar aquela noticia para todas as pessoas
possíveis.” Amar é uma porcaria”, frases como essa estão rodeando a
cabeça de Danilo, além de como ele tinha sido bobo, e bastante inocente a
acreditar que aquela garota realmente iria dar alguma bola para um
garoto que não tem nada de especial. O caminho para casa nunca havia
sido tão longo, a rua estava cheia de gente, que andava para lá e para cá,
mas Danilo sentia-se sozinho, e até as luzes amarelas que vinham das
lanternas dos postes, pareciam deixa-lo pior naquele momento. Nunca
teve que fingir tanto em sua vida, foram vários conhecidos que o pararam
para perguntar como ia, ou como a família dele estava.
- Estamos bem caramba!, apenas para de perguntar coisas para mim,
quero chegar logo em casa e me trancar no meu quarto, talvez até ouvir
algumas músicas que eu sei que só vão me piorar, mas isto não importa,
só quero que me deixe ir= Pensava ele.
Não importava para onde olhasse, ele via anúncios do festival em
qualquer lugar, até mesmo no para-choque de um velho fusca amarelo
que estava estacionado perto de sua casa, que nele tinha escrito: “Não
perderei por nada” e algumas imagens que o fazia lembrar o festival.
Danilo parou em frente da própria casa, não queria entrar, na verdade, ele
achava que não haveria qualquer outro lugar no mundo que o agradasse,
porque agora a vida não tinha mais sentido, pois os seus sentimentos
tinham sido esmagados de uma forma tão brutal, que até mesmo se ele
não amasse tanto aquela garota, ficaria abalado, porém acabou
lembrando que aquele lugar era bastante perigoso á noite, e acabou
entrando em casa.
- O mercadinho estava lotado?, porque é a única teoria razoável que há
para esta sua demora – Perguntou Joana logo que viu seu filho entrar –
Anime-se!, você não vai mais para o festival?, já está bem tarde...
-Olha mãe, não é uma boa hora tá? – Respondeu o filho, suspirando de
quando em quando – não irei mais para o festival, quero apenas ficar no
meu quarto e não ser incomodado, mãe, quando que o papai volta da
viagem mesmo?.
Danilo estava com uma expressão facial muito triste, seus olhares
vagos e perdidos mostravam que estava desnorteado, o que não escapou
de Joana, que sempre foi muito perceptiva, mas ela acabou deixando isto
de lado, não queria ser um empecilho para o filho, meter-se nos seus
assuntos pessoais não era algo que ela fazia frequentemente, mas mesmo
assim, ficou preocupada.
-Filho, o que houve com você?, parece tão pra baixo....-Perguntou Joana- O
que houve?, pode falar com a sua mãe se quiser, ah e seu pai voltará
amanhã de tarde
- Ah, então tudo bem, vou para o meu quarto agora, não vou jantar, estou
sem fome. – Disse Danilo, já virando-se em direção a seu quarto.
- Mas filho…. – Disse joana, deixando escapar um longo suspiro no final.
Era quase sempre assim, nunca tinha muita comunicação entre os
dois, Danilo era bem mais próximo ao pai dele, a quem ele contava todas
as coisas, pois além de pai, era seu melhor amigo, por esse motivo havia
perguntado a respeito de sua volta para casa.
Sozinho, era assim que Danilo sentia-se, apenas um garoto simples
com uma terrível dor que não passava mais de modo algum.
15 de Setembro de 2003
Naquele tempo, a febre dos computadores pessoais estava muito
grande, empresas como a Apple ou a HP ganhavam muito dinheiro com
isto, e ficava cada vez mais normal te-lo em casa. O computador sempre
trouxe muita facilidade de comunicação, mas para o jovem Danilo que no
tempo tinha 14 anos, a aquisição de um não era algo bom, pois, ele queria
que o pai comprasse o novo brinquedo que estava passando o dia inteiro
na tv. Otávio quase cedeu a vontade do filho, mas não conseguiu suportar
a pressão que Joana fez para que comprasse o computador, e acabou
comprando-o, instalando no quarto de hóspedes pelo fato de que eles
quase nunca recebiam visitas, e aquele seria “o quarto de lazer”. Após ter
instalado internet, estabeleceram horários entre si, cada um teria um certo
tempo para usá-lo, pois todos estavam ansiosos para acessar a grande
novidade. A aprendizagem de Danilo foi muito rápida, após algumas
semanas de uso, ele já sabia muita coisa sobre navegar na internet.
Algumas pessoas que eram conhecidas da família falavam que ele deveria
se formar em computação, por causa dessa facilidade, mas Danilo nunca
gostou muito da ideia pelo fato de achar chato. Um dos maiores hobbies
de Danilo era participar de discussões em fóruns que envolviam algo do
seu interesse, sempre que via um novo que tratasse de música ele logo
criava uma conta, sendo ás vezes uns dos 10 primeiros a entrar no fórum,
alguns sequer duravam duas semanas, mas ele sempre tentava ser o mais
ativo possível em todos, chegava a se surpreender das conversas que havia
tido com pessoas que ele nem conhecia. Não era um grande conhecedor
de música, mas nada que uma pesquisa na internet não resolva, sempre
que iria falar de alguma banda ou artista que não conhecia, pesquisava
antes para ter certeza de que não iria falar besteira, chegando a ser um
membro honrado em alguns fóruns pelo grau de atividade que possuía,
quase sempre estava em todos os debates. Certo dia, Danilo ficou bastante
intrigado com um tópico que lhe chamou bastante atenção, o nome dele
era: “Gradiente, será a novidade do cenário do rock nacional?”, pois,
mesmo tendo pesquisado bastante, não encontrou nada sobre, porém
parece que algumas pessoas conheciam, e outras afirmavam ter ido á
alguns shows da banda. Ele não sabia o que fazer, era a primeira vez que
não podia escrever nada sobre a banda por não ter informações, ele
acabou cedendo á curiosidade e perguntou sobre a banda por meio de
mensagem ao usuário que tinha criado aquele tópico:
“Prezado BDg, eu procurei bastante sobre a banda Gradiente, mas não
achei nada sobre, quero que você, se puder, me fale sobre esta banda,
pelo que falam, deve ser realmente boa. Vi em algumas postagens que
ainda não haviam gravado disco, porém mesmo assim quero saber sobre a
banda, fiquei bastante curioso.”
Danilo esperou bastante, mas mesmo assim não obteve a sua tão
sonhada resposta. Ele achou que talvez o usuário não tenha visto, ou
talvez ele não pode responder por algum outro motivo que não seja a
vontade de não lhe responder. Decidiu apenas deixar para lá, colocou na
cabeça que um dia iria ouvir está banda, mesmo que demorasse um
pouco, ele certamente terá algum relato daquela misteriosa banda. Danilo
então desligou o computador, deitou-se na cama que tinha ao lado, e ficou
pensando bastante sobre aquilo, imaginando como seria aquela banda
que tanto o deixava curioso, o que mais o preocupava era que tinha
chances da banda ser ruim, então ele estava perdendo tempo e se
preocupando com algo que não valia a pena. Olhava fixamente para o
teto, fixando o olhar na lâmpada fluorescente que estava desligada, mas
que quase sempre estava ligada, iluminando o local e sendo útil para os
outros, e esta foi a primeira vez que Danilo se sentiu assim, apagado,
como aquela lâmpada estava.
No dia seguinte, lá estava Danilo novamente entrando em todos os
fóruns que conseguia encontrar, participando de todos os debates que ele
conseguisse, com seus grandes textos de opinião sobre tal banda, como
sempre fez. Passando de tópico em tópico, pode notar um post que falava
sobre a banda gradiente, o que lhe chamou bastante atenção, fazendo
pular todos os outros tópicos que vinham antes deste, indo diretamente
para aquele. Danilo não podia acreditar, era o mesmo post que havia
encontrado no fórum anterior, com o mesmo usuário “BDg” como criador
daquela discussão. Tudo aquilo deixou Danilo um pouco confuso, porque
ele teria criado um post exatamente igual ao que tinha feito em outro
fórum, seria preguiça?, ou teria outra razão?. Decidiu então tentar entrar
em contato com aquele misterioso usuário que estava divulgando aquela
banda nos fóruns que ele costumava freqüentar, mas desta vez estava
disposto a fazer algo bem mais agressivo, talvez até dar uma de hacker e
entrar na conta dele, para deixar uma mensagem muito visível que ele não
pudesse deixar de ver, foi então que teve a ideia de criar o seu próprio
fórum, e com os conhecidos que tinha naquele meio, não seria difícil de
fazer com que o fórum ficasse cheio de pessoas, e consequentemente, o
usuário iria divulgar a sua banda ali, e de uma vez por todas, Danilo iria ter
a chance de falar com o “BDg”. O nome do fórum era Clave de Sol, e em
menos de 24 horas, já tinha mais de 300 usuários registrados, o que era
uma marca incrível para qualquer fórum naquela época, passando
rapidamente por muitos outros fóruns que existiam a mais tempo. Estava
tudo feito, agora era só disfarçar e esperar o “BDg” entrar e vir com o seu
post tradicional, o que não tardou a acontecer. Danilo estava conseguindo
administrar o fórum tranquilamente, tendo escolhido á dedo cada um da
staff que ele montou, sendo todos eles bastante ativos, o que é algo
essencial para ser um staff, nada saía do controle dele, até o menor
detalhe não conseguia passar despercebido, formou uma equipe ótima
para um fórum que no fim de sua primeira semana já tinha mais de 1000
usuários registrados, era um dos maiores na sua categoria. Mesmo com o
fórum tendo um crescimento acelerado, Danilo não se satisfazia com
aquilo, pois seu objetivo principal era falar com “BDg”, pois tudo aquilo
tinha sido montado para que pudesse falar com aquele usuário que havia
deixando várias perguntas, se não fossem respondidas, poderiam até
deixá-lo louco. Mas, finalmente o usuário deu as caras no Clave de Sol,
com o seu tradicional post sobre a banda gradiente, Danilo por sua vez, o
mandou uma mensagem, dizia estar sendo alertado por uma denúncia e
que precisava entrar em contato com ele, para poder esclarecer tudo, e
que talvez até fosse uma denúncia falsa, mas afirmava Danilo na
mensagem que a política do fórum era muito rígida, tendo então que
esclarecer qualquer coisa. Então eles começaram a trocar mensagens:
“BDg”
[Olha, eu realmente não sei o porque desta denúncia, eu sempre fui muito
cautelosa com os posts que eu fazia, possivelmente deve ser um usuário
que tem me perseguido por vários fóruns, talvez ele esteja querendo me
prejudicar, mas de que eu estou sendo acusado?]
“Ka”(Danilo)
[Estou tentando ser um administrador muito seguro em tudo o que faço, a
staff sempre procura a fundo todas as denúncias, e o que recebi foi que
você está postando em muitos fóruns, e que é o mesmo conteúdo em
todos, falando sobre a banda gradiente, te acusam de postar algum tipo
de vírus]
“BDg”
[Olha só que tosco rsrs, acho que agora você deve saber que não sou um
vírus. O post é o mesmo, porque tenho tentado divulgar a minha banda,
estou fazendo o máximo para conseguir isto]
“Ka”
[Me sinto um estúpido agora kk, porém é meu dever conferir isto, como
todos nós da staff temos feito, mas aproveitando que já estamos aqui,
conte-me mais sobre esta sua banda]
Danilo permanecia instável na cadeira do computador, estava
nervoso, pela primeira vez falava com o misterioso BDg, e para a sua total
surpresa era uma garota, algo totalmente inesperado. Restou a Danilo
apenas esperar, tentando manter ao máximo a sua conversa com ela,
mantendo-se no nível de administrador, pois isto de certa forma atraia as
garotas.
“BDg”
[Não, tranquilo, eu entendo que você deve ter tido os seus motivos. Minha
banda não é nada demais, algo que ainda está crescendo, você pode não
acreditar mas temos recebidos muitos convites de shows depois de
divulgar nos fóruns, e isto tem me deixado tão animada! ]
“Ka”
[Ah que legal!, tomara que sua banda tenha muito sucesso!, gosto muito
de bandas novas, é muito bom ver algo novo aparecer, eu sempre gostei
de coisas novas, alguma inovação, sabe?]
Conversaram por horas e horas, fazendo com que a conversa
abrangesse pontos muito mais profundos, só paramos quando as luzes
estavam todas apagadas e todos já estavam dormindo, mas não
perceberam que aquilo iria ter um fim muito trágico, ou um fim não tão
ruim para os dois, mas quem vai conseguir saber o que se passa na cabeça
dos dois?, tudo começou ai, apenas com esta conversa simples e que
abrangeu tanta coisa. Na verdade, ouso falar que o livro começa aqui.

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