Capítulo Cinco – Idas e Voltas
17 de Outubro de 2003
Era uma casa pequena vermelha, com
uma porta de madeira que possuía o número 65, escrito aparentemente com um
estilete ou algo parecido. Seu tapete de boas-vindas era novo e muito bonito,
feito nas cores preto e branco, ele dava um certo toque de beleza a mais
naquela simplicidade enorme que banhava totalmente aquela casa, desde a velha
lamparina que se encontrava na diagonal direita da porta de madeira, que se
encontrava agora apagara, até a pequena caixa de correios que tinha no quintal.
O quintal da casa era grande, talvez umas duas vezes maior que a própria casa,
sendo que esta estava no centro do terreno. A estrada de pedras que ia desde a
calçada até a porta, possuía rosas e tulipas na sua lateral, o que se estendia
quase até a porta. A grama do quintal era incrivelmente verde e muito bem
aparada, Thiago dizia que o seu pai passava a maior parte do tempo cuidando do
quintal da casa, pois julgava que essa era a verdadeira beleza em uma casa,
mesmo que todas as outras casas fossem extremamente diferentes da dele, ele
defendia-se dizendo que as outras pessoa que não possuíam bom gosto. Era
situada no Bessa, quase em frente à praia, além de ficar perto de um dos
melhores supermercados de toda a João Pessoa. Thiago costumava dizer que o pai
dele era uma daqueles espécies de pessoas que sentia prazer nas coisas simples
da vida, e que se pudesse ir morar em um ugar ainda mais simples do que aquele,
ele certamente estaria disposto a pensar no caso, porque não iria largar tão
fácil das suas caminhadas matinais na praia. Danilo ficou um bom tempo
admirando a parte da frente do quintal daquela casa, que só possuía uma cerca
de madeira, que era mais para delimitar o terreno do que para proteger a casa.
Aquela área não era perigosa, o único assalto que havia sido registrado nos
últimos 3 anos naquele lugar, havia sido um senhor de uma certa idade que havia
furtado algumas coisas no supermercado ali perto, mas depois dele ter explicado
a situação da sua família, além de não ser preso, recebeu ajuda dos moradores
daquela localidade e do dono do supermercado. Era o lugar em que todas as
pessoas sonhavam em morar. Passando pela estrada de pedras, Danilo pensava
apenas em como seria encontrar com aquela menina por quem tinha se apaixonado
tanto, pela primeira vez.
-Talvez eu deva comprar
uma rosa ou uma tulipa, para que ela tenha uma boa primeira impressão minha,
mas eu nem sei se ela gosta de rosas. Talvez eu compre uma roupa nova apenas
para ver ela, mas acho que minha mãe não deixaria eu fazer isto. Meu deu!, oque
diabos devo fazer? – Pensava Danilo.
Ao entrar na casa de Thiago, Danilo reparou que era tudo
realmente muito simples e ao mesmo tempo perfeitamente organizado naquela casa.
Era tão organizado que chegava a dar medo em quem não tinha costume de ver as
coisas quase que milimetricamente arrumadas. Umas das primeiras coisas que ele
notou foram os discos que ficavam dentro de uma estante com porta de vidro, que
ficava ao lado da televisão. Todos os artistas eram organizados por ordem
alfabética, e os álbuns eram organizados por ordem cronológica de lançamento.
Alguns aparentavam ser bem velhos, mas estavam completamente conservados, como
se alguém cuidasse de todos os discos regularmente, o que realmente acontecia.
Outra coisa eram o sofá de canto, que parecia ter chegado da loja neste exato
instante e a almofadas totalmente organizadas. A casa tinha um leve cheiro de
camomila, o que se devia ao fato de ser o chá preferido do pai de Thiago.
Haviam alguns quadros pequenos pendurados na parede totalmente branca da casa,
alguns eram até conhecidos, como a última ceia e Monalisa do Leonardo da Vinci,
que era o pintor favorito do pai de Thiago. A casa era inteiramente moldada ao
pai de Thiago, todos os pequenos detalhes daquela casa diziam respeito a ele,
porque era a casa que ele sonhava em ter desde a adolescência, sonho este que
realizou completamente. A sala não possuía muitas coisas: eram apenas o sofá de
canto cinza, com suas almofadas de feltro na mesma cor do sofá, além da pequena
televisão preta que ficava em cima de um raque marrom, e a estante. Ao entrar
no quarto que Thiago dividia com o pai, Danilo viu que tudo era como ele
esperava que fosse. Havia uma pequena cômoda ao lado da beliche aonde eles
dormiam, em que Thiago guardava tudo que escrevia por ordem cronológica, além
de separar todos os textos por gênero e tema, ou seja, as poesias sobre amor
estavam separadas das poesias sobre paisagens, assim como os textos sobre
barcos, estavam separados dos textos sobre a vida. Era tudo tão organizado, que
Danilo teve uma leve vontade de ir embora, pois achou que havia chegado em uma
casa habitada por dois maníacos, mas acabou deixando esta ideia de lado e
tentando se acostumar com aquilo tudo. Tinha um grande guarda roupas cinza, que
a esta altura o leitor já deve saber que é a cor preferida do pai de Thiago. As
roupas de Thiago eram organizadas entre roupas de sair e roupas de ficar em
casa, e estavam empilhadas de acordo com a frequência que ele costumava usar as
roupas, ou seja, as que ele usava mais no dia-a-dia, ficavam em cima das que
ele não costumava usar muito. Danilo então sentou-se calmamente na beliche de
baixa, estando claramente cansado da longa caminhada.
-Como você aguenta toda essa organização, cara?. – Perguntou Danilo.
-Ah, eu gosto de ser uma pessoa organizada, acho que eu tenho um pai
muito organizado em tudo, então, acabo tendo que ser do mesmo jeito. –
Respondeu Thiago, dando uma risada leve no final.
-Eu percebi isto!. –
Disse Danilo, em um tom irônico, enquanto tirava um chiclete do bolso menor da
bolsa em que estava trazendo as roupas.
-Bem, enquanto você vai
ficando mais confortável ai, eu acho que nós deveríamos ouvir alguma coisa que
preste. Ah, e eu quero saber mais sobre o que aconteceu com aquela menina. –
Falou Thiago, dirigindo-se para a sala.
Enquanto Danilo arrumava suas coisas, uma música começa a
tocar bem alto e aparentava estar vindo da sala. Era uma música lenta e com uma
bela melodia, além de ter uma incrível letra. Até mesmo Danilo que não gostava
muito de músicas nacionais, ficou intrigado quando ouviu aquela música.
-Que música é esta? –
Perguntou Danilo, enquanto terminava de ajeitar as roupas nas gavetas da
beliche.
-Ah, é uma bela canção
do Chico... – Disse Thiago – Acho que um cara tão antinacionalista como você não
conhece nem mesmo este músico. Brincadeira!, embora um pouco verdade. –
finalizou.
-Você sabe que não é,
mano. Chico Buarque é um dos melhores músicos do Brasil, em minha humilde
opinião. Mas é muito bonita mesmo, qual o nome dela? – Perguntou Danilo.
-Música boa.
Brincadeira de novo. Hoje estou meio brincalhão com tudo. Se chama valsa
brasileira. – Disse Thiago, rindo bastante com suas próprias piadas.
Danilo que não estava achando aquelas coisa muito
engraçadas, logo tratou de deitar-se na cama e tentar se concentrar nas letras
das músicas que estavam passando. Era uma das coisas que ele gostava muito de
fazer, porque dava uma certa quietude na sua alma que era sempre tão agitada
com todas as coisas e que parecia também uma porta para os grandes pensamentos.
-Uma das bandas que
mais fazem você pensar nas coisas da vida são os Beatles. De alguma forma bem
estranha as letras deles sempre me fazem pensar em coisas bem aleatórias
enquanto eu os escuto, mas mesmo que isto seja bem estranho, é algo eu sinceramente
adoro, mano. Eu tenho escutado aquela música deles, Girl, e pensado muito em
Beatriz. Eu sei que eu não devo ficar ensaiando as coisas na minha mente, mesmo
sabendo que talvez tudo saia errado e eu acabe sofrendo no final de tudo, mas
eu não consigo evitar de parar de pensar nela e em como as coisas podem dar
certo entre nós dois. Eu acho que a música que eu escolheria para agora, seria
Don’t Let Me Down, completamente. Eu apenas quero que ela não me abandone,
entende?. Eu gosto muito dela e acho que ela gosta um pouco de mim. Ela é tão
incrível em tudo que faz... – Disse Danilo, fitando a beliche de cima.
-Legal, cara. – Disse
Thiago, se dirigindo para a sala.
Danilo ficou sem entender nada do que estava acontecendo.
Porque a única pessoa a quem ele contava tudo e que sempre o ouvia e falava com
ele sobre tudo, do nada agiu assim?. Havia alguma coisa de errado, embora fosse
estranho isto ter acontecido tão de repente, porque até instantes atrás ele
estava completamente normal. Danilo então decidiu levantar-se e ir ver o que
estava acontecendo com o seu amigo, deveria ser algo realmente grave, pois, era
muito difícil ver ele daquele jeito. Chegando na sala, viu algo com que ficou
terrivelmente chocado. Thiago estava em pé com o seu rosto levemente descansado
na porta e suas mãos a esmurravam levemente, mas nada que fosse machucar. Se
você parasse um pouco para reparar, ele repetia continuamente a mesma frase:
“Que droga”, enquanto as lágrimas escorriam dos seus olhos que estavam
praticamente encharcado. Danilo ficou sem reação ao ver aquela cena. Porque
diabos ele estava acontecendo?. Mas a principal pergunta naquele momento era o
que diabos ele iria fazer quanto aquilo. Ele certamente deveria ajudar o seu
amigo numa situação tão complicada como essa, mas qualquer coisa que ele
fizesse que não fosse realmente ajudar só iria piorar tudo, então Danilo
permaneceu parado por um certo tempo, até ver que Thiago não iria melhorar tão
cedo daquilo.
-O que aconteceu?.
Porque estás chorando?, cara. – Perguntou Danilo, com um certo medo em fazer
aquelas perguntas.
--Minha vida é uma
porcaria, mano. Você nem faz ideia o quanto me faz mal fingir estar bem. –
Disse Thiago.
16 de Abril de 2005
-Porque tudo é tão estranho como é? Porque todas as luzes
obrigatoriamente precisam apagar antes de você ao menos se sentir iluminado por
elas? Porque diabos as coisas precisam sempre ser tão péssimas para mim? Será
que na hora do meu nascimento, o eterno Deus celestial olhou pra mim e disse
que eu iria apenas me foder na vida? Cara, porque nada dá certo para mim?
Porque tudo que eu tento é falho ou incompleto? Eu tento concertar as coisas,
mas elas ousam permanecer intocadas ou apenas não querem ser concertadas, sem
falar que ás vezes elas só permanecem sem fazer nada, e acaba desaparecendo
como uma luz no fim do túnel, que eu podia ver até alguns dias atrás. Porque a
chuva é tão insistente em levar tudo embora? –Perguntava-se Danilo, enquanto
desenhava coisas aleatórias em seu velho caderno de matéria.
Danilo quase não dormia mais após a morte da sua mãe. Parte disso se
devia a ter que aguentar seu pai sempre estar bêbado e sempre gritando consigo
mesmo, sem conseguir se perdoar por ter deixado a sua mulher cometer suicídio.
Em uma conversa um pouco após o velório, Otávio contou para Danilo que sempre
soube que Joana tinha depressão, mas que após o nascimento do filho, nunca mais
tinha apresentado quaisquer sintomas desta doença, e isto fez ele achar que
havia sido curada, enquanto na verdade as coisa haviam apenas se amenizado.
Danilo não suportava mais ver o seu pai daquela maneira, mas ao mesmo tempo
nada podia fazer para tirar o pai daquela situação, porque estava tão ruim ou
pior que ele, embora ele estivesse sempre sóbrio, ao contrário do pai. Então
Danilo precisava aguentar o seu pai gritando coisa como: “Eu me odeio”, “A
culpa é toda minha” e “Eu mereço morrer” o dia inteiro, enquanto não para de
beber whisky, como uma forma de tentar amenizar toda a culpa que estava
sentindo. Uma outra razão para a falta de sono que estava apoderando-se de
Danilo, era o fato dele nunca conseguir parar de pensar em todas as coisas, e
como o pai fazia, culpar-se totalmente pelo ocorrido. Uma coisa era coincidente
no que os dois falavam, ambos culpavam-se por deixar Joana sempre sozinha em
casa. Otávio viajava muito por causa do seu emprego de caminhoneiro, e quase
nunca podia estar em casa com a sua esposa, enquanto Danilo ocultava-se por
conta própria, quase sempre julgando não estar com muita vontade de conversar
com a mãe, que não possuía ninguém para conversar, e a única coisa que fazia o
dia inteiro era cuidar da sua casa e tricotar de vez em quando para passar o
tempo.
A casa estava sempre bagunçada, até porque Joana não
estava mais ali para arrumar a enorme bagunça que os dois faziam, e porque os
dois estavam ocupados demais para ao menos pensar em arrumar a casa. Parecia
mais um lixeiro do que realmente uma casa, dando para sentir o cheiro ruim que
dela saia, por uma pessoa que passasse perto da porta. Eram roupas espalhadas
pelo chão, restos de comida congelada jogados na pia, além dos pratos sujos que
provavelmente nunca seriam lavados. Poeira em todos os lugares e garrafas de
Whisky vazias empilhadas ao lado da velha poltrona em que Otávio passava o dia
sentado e bebendo. O quarto de Danilo estava totalmente bagunçado. Ele havia
feito uma espécie de colchão com as suas roupas, pois julgava que o único meio
que conseguiria dormir seria este, deitado no chão em cima das suas camisas
sujas de comida. O banheiro que estava sempre limpo e com uma fragrância suave
de hortelã, agora fedia a merda e a vodca, que era o que Otávio costumava beber
enquanto fazia suas necessidades fisiológicas, mas sempre acabava derramando
uma boa parte no banheiro, por descuido de bêbado. A casa quase nunca mais
recebia a luz do sol, porque os dois julgavam que eles não mereciam mais ver o
sol, e isto se dava como uma espécie de pena para os dois. O único momento em
que a porta abria, era quando eles precisavam receber a comida que Otávio
pedia, e isto se dava muito raramente, porque os dois estavam comendo pouco e
muito mal. Com o tempo eles começaram a ficar pálidos, e pela desnutrição
começaram a ficar magros. A escola de Danilo havia ligado várias vezes para a
casa, com o intuito de perguntar a razão pela qual ele estava faltando aulas a
u um bom tempo, mas parou depois de que uma conhecida da família foi avisar da
morte de Joana, o que fez com que eles parassem de interromper o quase que
interminável silêncio que se apoderava da casa todos os dias. O trabalho de
Otávio havia o demitido por ele ter deixado de comparecer, mas pelo fato dele
já trabalhar a muito tempo na empresa e ser muito amigo do seu chefe, ele foi
demitido de um modo que tivesse direito a seu FGTS, que era cerca de 20 mil
reais. Otávio estava completamente contente por isto, porque poderia permanecer
um bom tempo sobrevivendo com este dinheiro, fora o que ele ainda tinha na sua
conta bancária, que beirava os 15 mil reais. O estoque de bebidas da casa ainda
estava muito cheio, contando com cerca de 50 garrafas de whisky, 30 garrafas de
vodca e 15 garrafas de vinho, ou seja, não precisaria ser abastecido por um bom
tempo.
O vazio da casa era contrastava com o vazio existencial
que havia naqueles dois. Ambos estavam totalmente perdidos na escuridão da vida
e da casa suja em que não saíam a mais de um mês. Nenhuma conexão com o mundo
de fora havia sido realizada fora a parte de pegar a comida que era encomendada
por Otávio, que já estava quase ficando sempre normal enquanto estava bêbado.
Danilo, por sua vez, estava piorando a casa dia. Seus desenhos começavam a
ficar cada vais mais sinistros conforme o tempo passava e a escuridão do seu
pensamento apenas aumentava cada vez mais. Eram desenhos de células em que tudo
estava morto e a carioteca (que era preto) em forma de embrião abortado. Ele
dizia a si mesmo que aquilo era perfeitamente normal, e que não estava ficando
louco com tudo aquilo, mas a verdade era que ele mesmo sabia que estava péssimo
e estava piorando cada vez mais. Estes tipos de desenhos se repetiam aos montes
e enfeitavam boa parte do seu quarto, que estava quase todo pichado com
palavras de ódio, remorso e dor. Otávio já nem se importava mais com as coisas
que estavam acontecendo no mundo lá fora e sequer se importava com os desenhos
que o filho andava fazendo, até porque estava tão mal ou até pior que o filho,
e além de não achar aqueles desenhos estranhos, chegou a apreciar alguns.
Certo dia em que estavam ambos comendo na cozinha, alguém
toca a campainha da casa três vezes, o que era totalmente estranho, pois eles
não haviam pedido comida nem algo do tipo. Eles se entreolharam, enquanto
decidiam com o olhar qual dos dois seria o que iria abrir a porta para ver quem
era.
-Pai, provavelmente deve ser algum ser da escuridão que
está cansado de ter seus rostos desenhados por mim. Devem ter vindo reclamar
disto. Eu sempre soube que não deveria tentar desenhar demônios, eles não são
como os celestiais que aceitam ter o rosto desenhado. E agora? = Disse Danilo,
com os olhos arregalados.
-Deixa de besteira menino. Claro que são os deuses da
vodca vindo reclamar comigo por eu ter derramado meio litro da última vez que
eu fui no banheiro. Eu tenho que ter mais cuidado, mas por via de dúvidas, acho
melhor você ir atender a porta, meu filho. Não quero ter o desprazer de atender
um cara cujo corpo é totalmente feito de vodca, senão eu não resistiria a beber
ele inteiro, coisa que seria algum tipo de heresia e eu teria que ser julgado
por isto. – Disse Otávio, enquanto brincava com os fios de macarrão do seu
macarrão instantâneo.
-Eu vou atender, mas se eu for raptado para o domínio das
trevas, quero que saiba que a culpa vai ser inteiramente sua, pai. – Disse
Danilo, levantando-se bruscamente da cadeira e indo em direção a porta.
Danilo então foi caminhando até a porta com muito
cuidado, porque havia alguns cacos de vidro da garrafa de Red Label que o seu
pai havia bebido no dia anterior e jogado com muita força no mesmo lugar em que
a sua mulher teria se matado. Danilo então abriu a porta com muito cuidado, até
porque seu olhos não estavam mais tão acostumados com a luz do sol como eles
estavam antes dele virar um sedentário. A luz foi muito forte para seus olhos,
fazendo com que eles imediatamente se fechassem para não ser muito afetado com
aquela forte luz. Seu rosto pálido demonstrava uma pequena barba que estava
crescendo pouco a pouco pelo fato dele sequer tomar mais banhos, sendo assim,
também não fazia a barba. Olhou para aquela linda garota, ainda com os olhos
entreabertos, que tinha os cabelos vermelhos como o sangue, olhos azuis como o
céu, pele branca como as nuvens e o rosto mais belo que já havia visto em todo
o mundo. Seus lábios pequenos assim como suas orelhas, aonde havia um pequeno
par de brincos pequenos e que brilhavam pela luz do sol bater neles, eram
partes da beleza daquela garota, que também era alta e havia um corpo muito bem
definido, com belos e redondos seios que chamavam muita atenção por causa do
decote da sua blusa amarela do bob esponja.
-Oi, Demônio, achei que
fosse uma criatura feia e grotesca. Como vai pegar minha alma? = Disse Danilo,
apresentando estar muito surpreso com aquilo.
-Como assim? Oi? Oque
foi que você disse, Danilo? – Disse a garota, exibindo agora um semblante de
raiva
-Não é de surpreender
que o rei do submundo saiba o meu nome, aliás, você deve saber de todas as
coisas. – Disse Danilo.
-Que porra tá
acontecendo? Calma, respira um pouco. Você ficou maluco? - Indagou a menina,
sem entender nada do que estava acontecendo
-Eu sei que você é
Lúcifer, e que veio pegar minha alma como punição para todas as pinturas que eu
tenho feito de você e de seus subordinados. Porque parece tão surpreso com
isto? – Perguntou Danilo, com um semblante totalmente relaxado, como se não se
importasse nem um pouco com a ideia.
A menina então precipitou-se contra ele e deu um beijo em
seus lábios ressecados, após isto, ela o abraçou suavemente, como uma mãe faz
com seu filho pequeno que está chorando.
-Eu sei como deve estar
se sentindo, Danilo. Você ainda se lembra de mim? Precisa lembrar, eu ficarei
muito chateada se disser que não lembra da menina com quem namorou e jurou amor
eteno. Sou eu, Beatriz. – Disse Beatriz, enquanto mexia no cabelo sujo, duro e grande
de Danilo. Cabelo este que estava precisando urgentemente de um tratamento.
Danilo então abraçou-a com força. Olhou-a. Não conseguia
acreditar. Oque estava acontecendo? Seria um sonho? Não, ele estava abraçando a
garota que amou por muito tempo e que após muito tempo tinha reaparecido na sua
vida. Chorou. Após ter chorado bastante, ele chorou novamente, quando ela disse
que ainda o amava, e que havia contado os instantes para vê-lo novamente.
Chorou ainda mais quando ela falou que tinha fugido de casa e abandonado a
banda, apenas para poder ficar com ele, porque não aguentava mais suportar a
sua ausência. Ele não estava percebendo, mas ela também chorava. Ambos estavam
parados na frente da casa, chorando copiosamente, e assim ficaram por um bom
tempo.